quinta-feira, 10 de setembro de 2009

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

sábado, 20 de junho de 2009


SE EU TIVER APENAS UM ANO A MAIS DE VIDA...

Rubem Alves


Faz cinco anos que um grupo de amigos se reúne comigo para ler poesia. Para que ler poesia? Para a gente ficar mais tranqüilo e mais bonito. Mas não me entendam mal. Já observaram os urubus - como eles voam em meio à ventania? Eles nem batem as asas. Apenas deixam-se levar, flutuam. Esse jeito de ser chama-se sabedoria. A poesia nos torna mais sábios, retirando-nos do torvelinho agitado com que a confusão da vida nos perturba. Drummond, escrevendo sobre a Cecília Meireles, disse: "Não me parecia criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos. Por onde erraria a verdadeira Cecília, que, respondendo à indagação de um curioso, admitiu ser seu principal defeito 'uma certa ausência do mundo'? Do mundo como teatro, em que cada espectador se sente impelido a tomar parte frenética no espetáculo, sim; mas não, porém, do mundo das essências, em que a vida é mais intensa porque se desenvolve em um estado puro, sem atritos, liberta das contradições da existência".
Pois é isso que a poesia faz: ela nos convida a andar pelos caminhos da nossa própria verdade, os caminhos onde mora o essencial. Se as pessoas soubessem ler poesia é certo que os terapeutas teriam menos trabalho e talvez suas terapias se transformassem em concertos de poesia!
Pois aconteceu que, numa dessas reuniões, quando líamos trechos da Agenda 2001 - Carpe Diem, encontramos, no dia 2 de fevereiro, essa afirmação de Gandhi: "Eu nunca acreditei que a sobrevivência fosse um valor último. A vida, para ser bela, deve estar cercada de vontade, de bondade e de liberdade. Essas são coisas pelas quais vale a pena morrer." Essas palavras provocaram um silêncio meditativo, até que um dos membros do grupo, que se chama "Canoeiros", sugeriu que fizéssemos um exercício espiritual. Um joguinho de "faz-de-conta". Vamos fazer de conta de sabemos que temos apenas um ano mais de vida. Como é que viveremos, sabendo que o tempo é curto, "tempus fugit"?A consciência da morte nos dá uma maravilhosa lucidez. D. Juan, o bruxo do livro "Viagem a Ixtlan", advertia o seu discípulo: "Essa bem pode ser a sua última batalha sobre a terra". Sim, bem pode ser.
Somente os tolos pensam de outra forma. E se ela pode ser a última batalha, ela deve ser uma batalha que valha a pena. E, com isso, nos libertamos de uma infinidade de coisas tolas e mesquinha que permitimos se aninhem em nossos pensamentos e coração. Resta então a pergunta: "O que é o essencial?" Um conhecido meu, místico e teólogo da Igreja Ortodoxa Russa (seu livro - maravilhoso - "Para a vida do mundo", está sendo traduzido e em breve será publicado pela Paulus), ao saber que tinha um câncer no cérebro e que lhe restavam não mais que seis meses de vida, chegou à sua esposa e lhe disse: "Inicia-se aqui a liturgia final". E, com isso, começou uma vida nova. As etiquetas sociais não mais faziam sentido. Passou a receber somente as pessoas que desejava receber, os amigos, com quem podia compartilhar seus sentimentos. Eliot se refere a um tempo em que ficamos livres da compulsão prática - fazer, fazer, fazer. Não havia mais nada a fazer. Era hora de se entregar inteiramente ao deleite da vida: ver os cenários que ele amava, ouvir as músicas que lhe davam prazer, ler os textos antigos que o haviam alimentado.
O fato é que, sem que o saibamos, todos nós estamos enfermos de morte e é preciso viver a vida com sabedoria para que ela, a vida, não seja estragada pela loucura que nos cerca.
Lembrei-me das palavras de Walt Whitman: "Quem anda duzentos metros sem vontade/ anda seguindo o próprio funeral / vestindo a própria mortalha..." Pensei então nas minhas longas caminhadas pelo meu próprio funeral, fazendo aquilo que não desejo fazer, fazendo porque outros desejam que eu faça.
"Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim" - Álvaro de Campos. Sou esse intervalo, esse vazio - de um lado o meu desejo (onde foi que o perdi?); do outro lado o desejo dos outros que esperam coisas de mim. Não, não são os inimigos que me impõem o intervalo. Inimigos - não lhes dou a menor importância. Os desejos que me pegam são os desejos das pessoas que amo - anzóis na carne. Como tenho raiva do Antoine de Saint Exupéri - "tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos..." Mas isso não é terrível? Ser reponsável por tanta gente? Cristo, por amar demais, terminou na cruz. Embora não saibamos, o amor também mata.
Então, abandonar o amor? Não. Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de "abrir mão" - a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.
Aí eu comecei a pensar nas coisas que amo e que abandonei - vejam só: nesse preciso momento me dei conta de que, por causa dessa crônica não liguei a fonte que faz um barulhinho de água e nem pus nenhuma música no meu tocador de CDs, a pressa era demais, a obrigação era mais forte. Tudo bem agora, a fonte faz o seu barulhinho e o Arthur Moreira Lima toca minha sonata favorita de Mozart, em lá maior KV 331 - coisas que amo e abandonei. Eu, mau leitor de poesia! Poesia lida e não vivida! Não levei a sério o dito pelo Fernando Pessoa: "Ai, que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças..."Sempre fui louco por jardins. Uns acham que eu não acredito em Deus. Como não acreditar em Deus se há jardins? Um jardim é a face visível de Deus. E essa face me basta. Não tenho necessidade de ir olhar atrás das estrelas... Escrevi inúmeros textos sobre jardins. Num jardim estou no paraíso. Mas, que foi que fiz com o meu jardim? Abandonei. A caixa das abelhinhas apodreceu, caiu a tampa e eu não fiz nada. Cresceu o mato eu eu não fiz nada. Da fonte tirei os peixes, coitados... De lugar de prazer, onde se assentar em abençoada vadiação contemplativa, meu jardim virou um lugar de passagem.
Abandonei o meu amigo, por causa do dever. Para o inferno com o dever! Vou mesmo é cuidar do meu jardim. Por prazer meu. E pela alegria das minhas netas. Vou reformar a fonte, vou fazer um balanço (que os paulistas insistem em chamar de balança...), vou reformar o gramado, vou refazer a casa das abelhinhas, vou fazer uma cobertura para as orquídeas. E mais, vou fazer uma "casinha de bruxa", cheia de brinquedos, para as minhas netas, a Mariana, a Camila, a Ana Carolina, a Rafaela e a Bruna... Quero brincar com elas. Breve elas terão crescido e não mais terei netas com quem brincar. "Mas o melhor do mundo são as crianças..."
Vou voltar a tocar piano - coisas fáceis: a "Fantasia", de Mozart, a "Träumerai", de Schumann, o Improviso op. 90. n. 4 de Schubert, o prelúdio da "Gota dágua", de Chopin, alguns adágios de sonatas de Beethoven.
Quero ouvir música: aquelas que fazem parte da minha alma. Pois a alma, no seu lugar mais fundo, está cheia de música. E, sem precisar me desculpar pelo meu gosto, digo que amo música erudita. Música erudita é aquela que nos faz comungar com a eternidade. As outras, são bonitas e gostosas - mas são coisa do tempo.
Quero reler livros que já li. Vou relê-los porque é sempre uma alegria caminhar por caminhos conhecidos e esquecidos. É como se fosse pela primeira vez.
Não quero novidades. Não vou comprar apartamentos ou terrenos. Não quero viajar por lugares que desconheço. Eliot: "E ao final de nossas longas explorações chegaremos finalmente ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira vez..." É isso. Voltar às minhas origens, às coisas de Minas que tanto amo, a cozinha, os jardins de trevo, malva, romãs e manacás, as montanhas, os riachinhos, as caminhadas...
Há coisas que só poderei gozar em solidão. Ninguém é obrigado a gostar das músicas que amo. Entrando no seu mundo, gozarei de abençoada solidão. Lugar bom para se ouvir música assim é guiando o carro, sozinho, sem precisar conversar.
Mas quero meus amigos. Não do jeito do Roberto Carlos que queria ter um milhão de amigos. Não é possível ter um milhão de amigos. Quero meus poucos amigos. Amigos: pessoas em cuja presença não é preciso falar...
Estou tentando, estou começando. Espero que consiga...


Automonia moral


AUTONOMIA:OBJETIVO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR?


Ester Martin Branco Pinto


Em meu trabalho com a Psicopedagogia Institucional, percebo a dificuldade das pessoas assumirem posturas autônomas. Sabemos que este processo inicia-se na convivência familiar. Mas e a escola, em quanto participa, que tipo de formação moral e intelectual está oferecendo a nossas crianças? Esta incentivando a autonomia ou formando sujeitos passivos e repetidores?

Partindo destes questionamentos, busquei respostas através de observações a classes de 1ª série do ensino fundamental de uma escola estadual de Porto Alegre e, também, turmas do ensino médio e escolas particulares. As observações foram analisadas e o embasamento teórico feito a partir de autores como Jean Piaget e Lawrence Kohlberg, foram ainda consultadas obras de Constance Kamii, Rubem Alves, Roberto Crema e Pierre Weil.

O desenvolvimento moral na criança: (teorias)
Piaget defende a existência de categorias do pensamento lógico e da constituição da consciência moral e, que estas sejam uma construção gradual e sistemática.
Suas pesquisas e investigações sobre o desenvolvimento moral deram-se através dos jogos de regras.
A psicogênese da moralidade, segundo Piaget, é dividida em estágios, cada um dos estágios superiores incorpora o estágio anterior. A passagem de um estágio a outro se dá pela assimilação e a acomodação.

São os estágios:
Anomia: característica da criança de até +/- 2 anos, que são fortemente egocêntricas e não distinguem o certo do errado as tornando incapazes de seguir regras. (relação = afeto)
Heteronomia: característica da criança de +/- 2 anos à +/- 6 anos, período em que surge o respeito às regras, não por compreendê-las, por imposição de pessoas com maior autoridade. São exteriores à criança. Respeito unilateral. (relação = afeto e medo)
É o período do realismo moral, onde a crença é de que a boa criança é a que segue a regra dos adultos.
A idéia de justiça é confundida com a idéia de lei e com a autoridade. (Taille: 1992, p.53)
Autonomia: a partir dos 6 anos a criança começa a compreender as regras como acordos acertados entre as partes.
"a regra do jogo se apresenta à criança não mais como uma lei exterior, sagrada, enquanto imposta pelos adultos, mas como o resultado de uma livre decisão, e como digna de respeito na medida em que é mutuamente consentida" (Piaget: 1994, p.60)
Piaget trata também, em sua teoria, do problema das sanções relacionando-a com a justiça. Ele nos fala de dois tipos de sanção: a sanção expiatória, quando a qualidade do castigo é estranha àquela do delito e a sanção por reciprocidade. (Taille: 1992)
A sanção expiatória é característica das crianças menores e a por reciprocidade dos maiores, mas a sanção expiatória esta relacionada à coerção e a autoridade adulta sobre as crianças, ou seja, jamais deixam de ser observadas entre os adultos.
A heteronomia da criança é constantemente reforçada através das punições e das recompensas. A punição leva a criança a fazer o cálculo de risco, a adotar uma atitude de "conformidade cega", ou de revolta, ou seja, continuam heterônomas, não seguem as regras, mas também não as criam.
Para formar um sujeito autônomo é necessário que a autoridade adulta seja diminuída e o respeito mútuo seja desenvolvido.
Kohlberg, em suas pesquisas identificou seis estágios de raciocínio moral, através da análise a respostas a dilemas morais. Ele faz uma divisão em 3 níveis, onde cada um destes é composto por dois estágios, são:
Nível pré-convencional: é característico das crianças com menos de nove anos. Neste período a criança está atenta às normas culturais, ao que é certo ou errado, mas baseados nas conseqüências como a punição ou recompensa. Este nível é dividido em dois estágios:
Estágio 1 - orientação para a punição e obediência.
Neste estágio não são considerados o significado humano e o valor das atitudes e conseqüências e sim as conseqüências físicas do ato em si.
Estágio 2 - orientação relativista instrumental.
Neste estágio é considerado como justo aquilo que satisfazer as necessidades. A reciprocidade é como "toma lá, dá cá", e não com e sentido de lealdade, gratidão ou justiça.
Nível convencional: neste nível as conseqüências obvias e imediatas, não são consideradas. É o período onde existe um conformismo e lealdade à ordem constituída. Este nível compreende dois estágios.
Estágio 3 - orientação interpessoal do" bom menino/menina"
Neste estágio a crença de que se é bom quando agradamos e somos aprovados pelo outro. A "boa intenção" torna-se importante..
Estágio 4 - orientação à lei e à ordem constituída.
O comportamento correto é aquele que mostra respeito pela autoridade. Manter a ordem social apenas pelo desejo de mantê-la, não por uma escolha pessoal moral.
Nível pós-convencional: começa a definir-se o que é expectativa do outro e expectativa minha, o que é válido e aplicável, não por ser imposto, mas por identificação. Este nível tem dois estágios.
Estágio 5 - orientação para o contato social
Neste estágio o justo passa a ser aquilo que é constitucional e aceito de acordo com valores e opiniões pessoais. As leis deixam de ser consideradas válidas pelo simples fato de serem leis. As leis devem ser constituídas através de acordos e contratos.
Estágio 6 - orientação ao princípio ético e universal
O justo é definido pela consciência de acordo com princípios éticos, não são regras morais concretas. Quando não é possível modificar as leis, consideradas injustas, pelos meios legais, ainda assim existe resistência a elas.
"No desenvolvimento por estágios, o movimento de um estágio a outro acontece quando se cria um desequilíbrio cognitivo (...) Se numa dada situação, a estrutura cognitiva atual não pode resolver um problema, o organismo adapta-se a uma estrutura que possa resolvê-lo". (Duska, Whelan: 1979, p. 60)
É importante, também, salientar que as habilidades cognitivas e a idade cronológica são condições necessárias, mas não suficientes, ao desenvolvimento moral.

Educação e Sociedade :
Há muito que se ouve falar em mudança de paradigma na educação, quanto à passividade dos alunos, a falta de parceria entre os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem e principalmente ao modelo linear, onde a educação escolar se reduz ao ensino e a transmissão intelectual.
"A criança é modelada para aprender e se vender por notas, que precisa mostrar aos pais, jogando a sua originalidade na lata de lixo. Talvez essa seja uma das origens da corrupção. Mais tarde, essa pessoa "educada" se venderá por outras notas!" (Roberto Crema: 2001, p.42).
É claro que a escola não é a única "vilã", não são poucos os que influenciam em nossa formação, em nossas decisões e destas influências que resulta o tipo de homem/mulher que somos, ou seja, somos a soma dos desejos dos pais, da escola, do governo, líderes religiosos,.. e de nossos próprios desejos. A escola ainda é vista como a principal instituição para se adquirir o conhecimento e uma ascensão profissional, e parece estar cumprindo sua função: E quanto a parceria? Pois, a escola além de educar para conhecer e para fazer precisa não deixar de educar para conviver e para ser.
"Nietzche dizia "O que elas realizam (escolas), é um treinamento brutal, com o propósito de preparar vasto número de jovens, no menor espaço de tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço do governo". Se ele vivesse hoje certamente faria uma pequena modificação na sua última afirmação. Em vez de "usáveis a serviço do governo", diria "usáveis e abusáveis a serviço da economia" (Rubem Alves: 2000, p.23).

Prática:
O trabalho de campo foi realizado em uma escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio de Porto Alegre. Foram observados em classe as turmas 11, primeiro ano do ensino fundamental e turma 304, terceiro ano do ensino médio e durante intervalos e horas livres no pátio da escola. São, também, considerados relatos de professores e pais desta mesma escola e de professores, orientadores, alunos e pais de outras escolas estaduais e particulares.

Relato:
A primeira observação realizada foi à turma de ensino fundamental, durante um turno inteiro de aula as crianças ficaram com algumas folhas de ofício, respondendo, colorindo, completando, copiando,.., sem nenhuma oportunidade de criar, pesquisar ou concluir. Quando um assunto, quase que geral na classe, como por exemplo a figura de um lavrador, gera o interesse pelas coisas da terra, não acontece nenhum movimento da professora em explorar e enriquecer o trabalho. O pedido de silêncio é constante, mesmo quando os alunos conversam, discutem e trocam idéias sobre o próprio trabalho. A professora, em determinado momento, solicita a um dos alunos que deixe o colega fazer sozinho, passo a observá-los e percebo que está acontecendo uma mediação, um colega auxiliando o outro, ele insiste e mais uma vez ela solicita: deixe-o fazer sozinho.
Quando da segunda observação, no ensino médio, chego na sala de aula as 7:00, horas de início, as 7:15 chega a professora de geografia e inicia a aula com 3 alunos presentes, após 10 minutos chegam mais 5 alunos, e para minha surpresa o trabalho é responder um questionário, revisão para prova. Destes 8 alunos apenas dois deles respondem as questões, os outros ficam aguardando as respostas no final da aula. Bate o sinal, o professor retira-se e os alunos vão para a sala de artes. (não foi possível acompanhar a aula de artes), ou seja, nada criaram, pesquisaram, questionaram ou concluíram. Durante esta mesma aula surgiu o assunto referente a formatura, onde mencionaram não ter o apoio de nenhum dos professores e muito menos da direção da escola, por isso estavam organizando do jeito que podiam.
No horário de entrada é comum os professores dirigirem-se para as salas de aula quinze minutos após o sinal. A agitação dos alunos é total neste período.
Comentários de pais, professores orientadores e alunos. (escola observada e outras)
A quinta série o que menos vem fazer na escola é assistir aula, e seus professores o que menos fazem é atraí-los para a sala de aula.
Minha filha está sem aula desde quarta-feira, eles iriam à feira do livro, mas os professores não quiseram levá-los porque são muito "bagunceiros", aí não teve aula, transferiram o passeio para quinta-feira, também não foram e os professores não vieram dar aula e sexta-feira foi feriado.

No início do ano a pré-escola e a primeira série do ensino fundamental ficaram sem aulas por 15 dias, o prédio destas estava sem água e foi interditado pela SEC. Antes do início do ano letivo o problema já existia e não foi solucionado.
A pré-escola ficou sem aulas por 2 meses (setembro e outubro), o prédio alagou com as fortes chuvas. Este problema existe a 20 anos e não foi solucionado.
Pedi demissão da escola onde trabalhava, estou desiludida com a educação, virou um comércio. Alguns alunos roubaram um engradado de refrigerante. Queria chamar os pais e trabalhar isto junto com seus filhos. Não me foi permitido, me disseram que os alunos já haviam pagado os refrigerantes, os pais poderiam ficar chateados e tirarem seus filhos da escola.
Consultei dois especialistas em educação, pois não estava concordando com as atitudes que via dentro da escola, fiquei em dúvida. Realmente não é correto. Vou trocar meu filho de escola, pago muito caro por muito pouco.
É um absurdo um aluno pode não ter notas satisfatório durante todo o ano, se alcançar média na última prova está passado. E mais, não precisa nem freqüentar a aula, se eu rodá-lo por faltas ele vai até a SEC eu faço de conta que dei aulas de recuperação e tenho que passá-lo.
Que besteira. Para que estudar o ano inteiro se só o que preciso é tirar uma boa nota na última prova do ano?
A S. não vê nada, meu filho chegou em casa com as costas toda machucada de uma paulada que levou de um coleguinha.
Se ela não se interessa na aula não vai ao passeio.
Se ele não me entregasse o atilho eu tiraria meio ponto na nota da prova.
O M. A. saiu da aula e passou o tempo todo na rua, só voltou na hora da mãe dele buscar. (aluno de 1ª série do ensino fundamental falando do colega de turma - ambos c/ 8 anos)
Bem, teria muitos outros relatos para transcrever, mas acredito que estes mostrem a realidade de nossas escolas. É importante ressaltar que estes não são apenas referentes a escolas públicas, mas também a escolas particulares.

O que pensar?
Acredito que as crianças são pesquisadoras por natureza, através de suas construções e reconstruções, perguntas e comentários a respeito das coisas que as rodeiam, buscam respostas e possibilidades de compreender o mundo. Em toda a sua inocência e alegria pela vida acreditam poder questionar, discordar e experimentar o que está a sua volta.
Toda a potencialidade da criança, ao ingressar na escola, parece não ser levada em conta. A originalidade e individualidade de cada um são trocadas pela padronização. Falar, agir, escrever, responder e, até mesmo, pensar igual.
A escola hoje, ou sempre, está séria demais, "carrancuda". O lazer, o riso, o lúdico, o experimentar não são permitidos, a curiosidade não é satisfeita, as perguntas ficam sem respostas.
A família, a sociedade está cada vez mais do lado de fora dos portões da escola. Em nome de uma "proteção" os muros e as chaves aumentaram. Será esta a forma de ensinar a vida, deixando-a do lado de fora?
Nossas crianças e nossos jovens estão cada vez mais sozinhos e menos motivados para o encontro, respeito, regras, convivência, não estão cuidando de si e, menos ainda, do outro, tendo atitudes mal educadas, agredindo professores e colegas e ignorando qualquer tipo de regra. - buscam o ponto de equilíbrio -.
Nossos professores não estão sabendo lidar com nossos alunos. Pedem para que uma geração do movimento fique quieta e em silêncio, ouvindo respostas "certas", onde basta ter boa memória.
Estes professores precisam aprender a lidar com o pensar, com o sentir, com o cuidar e com a fé ao mesmo tempo.
Os alunos querem a interação, a participação, querem a parceria, não importando quem sabe mais, mas o encontro com este, o respeito e os limites.

A autonomia como objetivo da educação:
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (Rubem Alves. www.rubemalves.com.br)
Percebo em nossos professores um forte autoritarismo perante os alunos. Desenvolver a autonomia em um ambiente autoritário não me parece possível. Nossos alunos sentem-se como "depósitos" do conhecimento do professor, percebem-se como pessoas que nada tem a contribuir para o processo ensino-aprendizagem.
Infelizmente, na escola, os estudantes são levados a recitar respostas "certas", e raramente são perguntados sobre o que pensam sinceramente. (Kamii, 1985 p 129)
Das aulas que observei e das conversas com professores, em momento algum percebi como objetivo o ensinar o pensamento crítico aos alunos, mas ao contrário, como diz Kamii - "recitar respostas "certas". Nossas escolas ensinam os resultados e não o como chegar a eles.
Quando nossas escolas educarem, além de para conhecer e para fazer, também o para conviver e para ser estaremos no caminho da educação para a autonomia e isto importa em uma transformação radical do processo educacional.
A essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar decisões por si mesmas. A autonomia significa levar em consideração os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. (Kamii, 1985 p 108)

Considerações finais:
Rosseau e Kant, cada um deles por formas distintas, já buscavam os caminhos da autonomia. Esta busca é bastante antiga.
Sou uma educadora que acredita ser possível chegarmos a uma educação que favoreça o desenvolvimento moral e intelectual de nossas crianças e jovens. Caso contrário veremos dia a dia o crescimento da violência e do suicídio infanto-juvenil.
O professor precisa tornar-se mais atraente, precisa surpreender positivamente, buscar a cooperação, o encontro, a parceria no aluno. Tornar-se mais atraente é ter a capacidade de se reencantar e encantar a cada novo momento. O reencantar-se é o resultado entre o que ele recebe do aluno, da escola e da comunidade e o que ele realmente busca.
A parceria professor, aluno, sociedade, o global passa a ser a base do processo ensino-aprendizagem desta nova sociedade. A alavanca para a mudança de paradigma educacional.
Como nos diz Kamii (1985): precisamos retornar a antigos valores e relações humanas.
Referências bibliográficas:
ALVES, Rubem: A alegria de ensinar. Campinas : Papirus, 2000.
____________ Gaiolas e asas. Home page Rubem Alves.
CREMA, Robarto; Araújo, Washington: Liderança em tempo de transformação. Brasília: Letraativa, 2001.
DUSKA, Ronald; WHELAN, Mariellen. Desenvolvimento moral na idade evolutiva - um guia a Piaget e Kolhberg. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
INOUE, Ana Amélia: Temas transversais e educação em valores humanos / Ana Amélia Inoue, Regina de Fátima Migliori, Ubiratam D'Ambrósio. São Paulo: Peirópolis, 1999.
KAMII, Constance. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1985.
MORAL e Tv / org., apres. Maria Lucia Tiellet Nunes; pref. Rita Petrarca Teixeira; Biaggio,ªM.Brasil. Porto Alegre: Evangraf, 1998.
PIAGET, Jean. O juizo moral na criança / tradução Elzon lenardon. São paulo: Summus, 1994.
TAILLE, Y.; Oliveira, M ; Dantas, H. piaget, Vigotsky, wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
WEIl, Pierre. A mudança de sentido o sentido da mudança. Rio de janeiro: Rosa dos tempos, 2000.
Werri, A .P.S e Ruiz, A .R: Autonomia como objetivo na educação. Paraná

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pense....



"TUDO O QUE HOJE PRECISO REALMENTE SABER,
APRENDI NO JARDIM DA INFÂNCIA.
Tudo o que preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como
ser, eu aprendi no jardim da infância. A sabedoria não se encontrava no topo
de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo
dia. Estas são as coisas que aprendi lá:
1. Compartilhe tudo.
2. Jogue dentro das regras.
3. Não bata nos outros.
4. Coloque as coisas de volta onde pegou.
5. Arrume sua bagunça.
6. Não pegue as coisas dos outros.
7. Peça desculpas quando machucar alguém.
8. Lave as mãoes antes de comer e reze antes de deitar.
9. Dê descarga.
10. Biscoitos quentinhos e leite fazem bem para você.
11. Respeite o outro.
12. Leve uma vida equilibrada: apreda um pouco, pense um pouco...e
desenhe...e pinte... e cante... e dance... e brinque... e trabalhe um
pouco todos os dias.
13. Tire uma soneca.
14. Quando sair, cuidado com os carros.
15. Dê a mão e fique junto.
16. Repare nas maravilhas da vida.
17. O peixinho dourado, o hamster, o camundongo branco e até mesmo a
sementinha no copinho plástico, todos morrem... nós também.
NOTE:
Pegue qualquer um desses itens, coloque-os em termos mais adultos e
sofisticados e aplique-os à sua vida familiar, ao seu trabalho, ao seu governo
ou ao seu mundo e verá como ele é verdadeiro, claro e firme. Pense como o
mundo seria melhor se todos nós, no mundo todo, tivéssemos biscoitos e
leite todos os dias por volta das três da tarde e pudéssemos nos deitar com
um cobertorzinho para uma soneca. Ou se todos os governos tivessem como
regra básica devolver as coisas ao lugar em que elas se encontravam e
arrumassem a bagunça ao sair.
Estas são verdades, não importa a idade.
Ao sairmos para o mundo é sempre melhor darmos as mãos e ficarmos
juntos."
(autor desconhecido)

Fases do desenvolvimento cognitivo



Prof Eric Calderoni


As fases do desenvolvimento infantil segundo Piaget

Período Sensório-Motor (0 a 2 anos)
- Aprendizagem da coordenação motora elementar
- Aquisição da linguagem até a construção de frases simples
- Desenvolvimento da percepção
- Noção de permanência do objeto
- Preferências afetivas
- Início da compreensão de regras


Período Pré-Operatório (2 a 7 anos)
- Domínio da linguagem
- Animismo, finalismo e antropocentrismo/egocentrismo, isto é, os objetos são percebidos como tendo intenções de afetar a vida da criança e dos outros seres humanos.
- Brincadeiras individualizadas, limitação em se colocar no lugar dos outros
- Possibilidade da moral da obediência, isto é, que o certo e o errado é aquilo que dizem os adultos.
- Coordenação motora fina.


Período das Operações Concretas (7 a 11 ou 12 anos)
- Início da capacidade de utilizar a lógica
- Número, conservação de massa e noção de volume
- Operações matemáticas, gramática, capacidade de compreender e se lembrar de fatos históricos e geográficos
- Auto-análise, possibilidade de compreensão dos próprios erros
- Planejamento das ações
- Compreensão do ponto-de-vista e necessidades dos outros
- Coordenação de atividades, jogos em equipe, formação de turmas de amigos (no início de ambos os sexos, no fim do período mais concentrada no mesmo sexo).
- Julgamento moral próprio que considera as intenções e não só o resultado (p.ex. perdoar se foi “sem querer”). Menos peso à opinião dos adultos.


Período das Operações Formais (11-12 anos em adiante)
- Abstração matemática (x, raiz quadrada, infinito)
- Formação de conceitos abstratos (liberdade, justiça)
- Criatividade para trabalhar com hipóteses impossíveis ou irreais (se não existe gravidade, como funcionaria o elevador? Se as pessoas não fossem tão egoístas, não precisaria de polícia.). Possibilidade de dedicação para transformar o mundo.
- Reflexão existencial (Quem sou eu? O que eu quero da minha vida?)
- Crítica dos valores morais e sociais
- Moral própria baseada na moral do grupo de amigos
- Experiência de coisas novas, estimuladas pelo grupo de amigos
- Desenvolvimento da sexualidade

terça-feira, 16 de junho de 2009

Leilão do jardim


LEILÃO DO JARDIM

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
Lavadeiras e Passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de Sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua de Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
Este é o meu leilão!

Cecília Meireles